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Entrevista

Ronaldo, doçura sobre rodas

Publicado em 20 de maio de 2023 às 10:45
Atualizado em 20 de maio de 2023 às 10:45

Superação. No dicionário: ação de vencer, de conseguir a vitória. E uma palavra que também representa a história de Ronaldo Agostinho da Silva. Hoje com 39 anos, o capixaba de Barra de São Francisco é paraplégico desde os 6 meses de idade, mas essa condição não o impediu de seguir em frente com a vida. Em sua cadeira de rodas motorizada, que ganhou recentemente de um turista mineiro, e com um sorriso no rosto, Ronaldo circula pelas praias de Guarapari comercializando doces e colecionando amizades. No restaurante Píer 27, onde passa a maior parte das tardes, ele recebeu a Sou para uma conversa sobre sua trajetória, a surpresa em receber a cadeira e planos para o futuro.

Revista Sou: Quando você chegou a Guarapari?

Ronaldo: Eu nasci em Barra de São Francisco. Alguns anos depois, meu pai comprou uma terra em Rondônia e fomos para lá. Em 2011, minha mãe e eu voltamos para o Espírito Santo, para morar em Água Doce do Norte, no ano seguinte viemos para Guarapari. Hoje pago aluguel e moro sozinho no Perocão, mas minha mãe mora próximo de mim.

Sou: Quando você começou a vender os doces? E de que forma você enxergou eles como fonte de renda?

Ronaldo: Comecei as vendas há cerca de 1 ano e, na verdade, é até engraçada essa história. Eu estava na porta do Shopping e passou um homem, me entregou R$ 2,00 e disse: “Não vai ficar só nisso não, espera um pouco, não sai daqui”. Ele foi numa loja, comprou uma caixa de paçoca e falou “Toma, para você ganhar seu dinheiro. Você vai conseguir vender, mas não vai ficar só nessa não”. Passei a vender e comprar mais, e olha só onde estou agora. Eu não o conhecia e foi como começou. Deu certo, vendo aqui, vou para Vila Velha também uma vez na semana. Mas eu também tenho trabalhado com outros produtos. Se você disser que precisa de uma caixinha de som ou um fone de ouvido, eu também compro para revender.

Sou: Você passa boa parte do dia nessa região do Centro, mas percorre outros bairros também?

Ronaldo: Eu conheci um funcionário daqui do Restaurante Píer 27, que é meu vizinho, e ele perguntou: “Por que você não tenta vender aqui no Carnaval. Você vai no Siribeira e tenta vender lá”. Eu pensei “será que dá certo?”. Foi quando eu conheci a Elaine, outra funcionária e a Patrícia, do Brisamare. Agora sou amigo de todos aqui. Já tenho muitos clientes, não só aqui, também em Vila Velha, Perocão e na Praia do Morro. Mas geralmente passo mais tempo aqui no Centro mesmo.

“Acho importante também contar a minha história para vocês, porque é uma forma de quebrar o preconceito que ainda existe. Infelizmente, ainda há famílias que têm esse preconceito com as pessoas com deficiência, às vezes têm vergonha, e eu estou contando a minha história para ajudar a mudar.”

Ronaldo

Sou: Você sempre precisou de cadeira de rodas, e recentemente foi surpreendido por um turista de Minas Gerais com uma motorizada. Como ele chegou até você?

Ronaldo: Toda a minha vida. E desde quando eu cheguei em Guarapari, o professor Germano e a família dele sempre me acompanharam. Através dele, eu conheci os projetos e descobri o CRAS de Santa Mônica, e passei a participar dos projetos. Minha cadeira anterior foi o professor Germano que conseguiu. Já a história com o turista também é curiosa. Eu estava trabalhando aqui na praia, e ele me abordou. Estava com a família dele, disse que queria almoçar e perguntou onde teria um restaurante, eu apontei para cá (Píer 27). Nisso eles vieram e almoçaram. Ele pegou o número de telefone do restaurante com uma funcionária e, dias depois, a cadeira chegou aqui e os funcionários me entregaram. Desde então não estive com ele. Ele se chama Carlos, mas não consegui contato ainda.

Revista Sou: Você tem outros planos? O que espera para o futuro?

Ronaldo: Quero muito ajudar as pessoas, fazer um trabalho que ajude quem precisa. Vejo exemplos de projetos, como do professor Germano, que me ajuda bastante, e é um incentivo. Acho importante também contar a minha história para vocês, porque é uma forma de quebrar o preconceito que ainda existe. Infelizmente, ainda há famílias que têm esse preconceito com as pessoas com deficiência, às vezes têm vergonha, e eu estou contando a minha história para ajudar a mudar. Além disso, eu estudei até a 6ª série, e pretendo voltar a estudar.

Registro

Patrícia Gonçalves, do restaurante Brisamare, foi responsável por registrar o momento da entrega da cadeira motorizada que Ronaldo ganhou de presente. Ela conta que Ronaldo fez questão de retribuir a outra pessoa a solidariedade que recebeu do turista mineiro. “Ele quis que outras pessoas sentissem a mesma alegria que ele teve. Nós temos uma prestadora de serviço freelancer aqui, que tem uma mãe acamada, e uma das grandes dificuldades era levar a mão ao médico, porque não tinha como carregar. Então, o Ronaldo deu de presente a cadeira antiga dele. A Elaine, que trabalha no Píer 27, reformou a cadeira, trocou estofamento, fez ela ficar nova, e fez a entrega para a mãe da Lucy, que nos ajuda de vez em quando.”

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